sexta-feira, 16 de novembro de 2012
JESUS, O EDUCADOR DE ALMAS
Liberta das interpretações tendenciosas de certos teólogos, a Humanidade começa,
vagarosamente, a entender, com mais amplitude e profundidade, o que significou, para o
mundo, a vinda de Jesus, o Mestre mais perfeito que a Terra conheceu, aquele que
baseou seus ensinamentos na pedagogia do exemplo. Não há um só ensinamento dele
que tenha ficado sem o seu testemunho pessoal. Jesus foi simples e minucioso no que
ensinou verbalmente, e farto na exemplificação. Por isso é que se deve tomá-lo como o
Mestre e Guia a ser seguido, e não como um simples intermediador entre o homem e
Deus. Não há nenhuma base no Novo Testamento para se afirmar que o Mestre teria
selado uma pretensa aliança com o Criador, através do oferecimento do seu sacrifício para
a salvação da Humanidade, conforme interpretações equivocadas de teólogos.
O próprio conceito de religião foi modificado a partir dos seus ensinamentos. Com
Jesus, aprende-se que religião não é algo mágico a ser levado a efeito no interior dos
templos. Não mais aquela idéia de que religião é prática mística, contemplativa,
ritualística, cheia de oferendas e fórmulas repetitivas vivenciadas no interior das assim
chamadas “Casas de Deus”. Religião, conforme seus ensinamentos e, principalmente seus
exemplos, passou a ser, para aquele que lhe entendeu as lições, um novo modo de viver,
de se relacionar com o próximo, em todos os ambientes, em todos os momentos.
Ensinando que Deus está presente em todo o universo, alargou os limites dos templos, ao
conceituar o universo como um santuário imenso: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas” (Jo, 14: 2).
Jesus não foi um Mestre de gestos largos, de atitudes místicas e contemplativas,
que vivesse confinado em ambiente religioso, ou em local distante, isolado do convívio
diário, longe da vida prática. Pelo contrário, o Mestre sempre conviveu com as pessoas, e,
para prevenir qualquer interpretação equivocada, deixou ensinamento lapidar, registrado
por dois evangelistas: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...).” (Mt, 10:
16) e “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Luc, 10: 3). Nem era
um profissional religioso: vivia como simples carpinteiro, que causava espanto a alguns,
diante do que falava e fazia: “... donde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que
lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro,
filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? e não estão conosco
aqui suas irmãs? E escandalizavam-se nele.” (Mc, 6: 2 e 3).
Jesus foi um educador de almas, que sempre enfatizou a necessidade do empenho
da criatura no sentido de educar-se, de progredir, conforme ensinou no Sermão do Monte:
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...).” (Mt, 5: 16). Toda a mensagem
religiosa do Mestre fundamenta-se no esforço da criatura no sentido de revelar essa
herança divina que todos trazemos. Nada de graças, além da graça da vida. Nada de
privilégios: “(...) e então dará a cada um segundo as suas obras.” (Mt, 16: 27).
Trouxe uma nova dimensão ao entendimento humano, através de uma mensagem
que é um verdadeiro desafio, no sentido de seus discípulos transcenderem os limites da lei
antiga, que preconizava “olho por olho, dente por dente”: “(...) se a vossa justiça não
exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mt, 5:
20). “Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu,
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porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos
que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; (...).” (Mt, 5: 42 e 43).
Jesus não desejou discípulos passivos, encantados, deslumbrados. Pelo contrário,
sempre buscou tocar o sentimento, juntamente com o apelo para que a criatura
raciocinasse, a fim de saber, de compreender porque deveria agir desse ou daquele modo.
O Sermão do Monte, que para muitos é apenas um hino ao sentimento, é, também, uma
forte mensagem à inteligência, ao raciocínio: “E qual dentre vós é o homem que, pedindolhe
pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se
vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai,
que está nos céus dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11).
Jesus levou o entendimento, a compreensão, o uso do raciocínio, ao campo da fé. A
fé ensinada por Jesus transcende os limites da emoção, do sentimento, por associar-se a
um componente essencial: a razão. Inquestionavelmente, a fé raciocinada, ensinada pelo
Espiritismo, começou com Jesus. Kardec, como profundo conhecedor dos Evangelhos –
livre dos prejuízos causados pelos sucessivos exegetas, ao longo dos tempos – soube ver a
objetividade e a racionalidade dos ensinamentos do Mestre. Soube ver que Suas lições têm
sempre dois direcionamentos: ao sentimento e à razão: “Olhai para as aves do céu, que
nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.
Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mt, 6: 26). Ao ensinar a criatura a não
criar fantasias sobre a fé, mostra a linha divisória entre aquilo que deve ser objeto da
preocupação do homem, e o que deve ser entregue a Deus, perguntando: “E qual de vós
poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?” (Mt, 6: 27).
Esse o motivo de se ler na folha de rosto de “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Fé
inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da
Humanidade.”
A educação religiosa que Jesus propicia ao homem leva-o a conscientizar-se de que
não será através de orações repetidas que estaremos agradando a Deus: “E, orando, não
useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão
ouvidos.” (Mt, 6: 7). Nem através de oferendas ou bajulações: “Portanto, se trouxeres a
tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali
diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e
apresenta a tua oferta.” (Mt, 5: 23 e 24).
No Seu trabalho educativo do Espírito humano, Jesus mostrou a importância do
bom relacionamento com o próximo como caminho para Deus, conforme bem entendeu o
Apóstolo João, que registrou: “Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode
amar a Deus, a quem não viu?” (I Jo, 4: 20).
Significativo é o diálogo entre o doutor da lei e Jesus, conforme relatado no
Evangelho de Lucas (10: 25 a 37): “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Ali se vê
um homem, conhecedor profundo das leis religiosas, a ponto de citá-las de cor, logo que
inquirido por Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo.” (Deu, 6:5 e Lev. 19: 18). Efetivamente, os judeus sabiam de cor esses dois
mandamentos maiores. Entretanto, quando Jesus lhe disse: “Faze isso e viverás”, aquele
homem não compreendeu, porque para ele não havia conexão entre o preceito religioso,
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que lhe enfeitava o campo intelectual, com a vida prática, a ponto de perguntar: “Quem é
o meu próximo?” Para aquele homem “próximo” era uma palavra mágica, sagrada, usada
nos momentos religiosos, no templo, sem nenhum significado real na chamada vida
profana. Daí o seu espanto. Estranhou que Jesus lhe recomendasse a aplicação do
preceito religioso à vida comum. Sabendo da distância que havia entre os preceitos
religiosos e a vida em sociedade, é que o Mestre contou-lhe a Parábola do Bom
Samaritano, mostrando que aquele homem – desprezado pelos judeus – fez sua oferenda
a Deus, não diante de um altar, mas através do mais legítimo representante de Deus: o
próximo!
Ele próprio deu-se como exemplo no serviço a Deus na pessoa do próximo. Curava
sempre, impondo as mãos sobre os doentes, embora não precisasse fazê-lo para curar
(vide cura do servo do centurião: Mt, 8: 5 a 13), mas o fez para ensinar, recomendando
que se fizesse o mesmo: “... e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.” (Mc, 16:
18). Deixou bem claro, também, a gratuidade da prática religiosa: “... de graça recebestes,
de graça dai.” (Mt, 10: 8).
Jesus concedeu uma verdadeira carta de alforria à Humanidade, em relação à
intermediação sacerdotal, ao informar a criatura humana de que ela tem o direito legítimo
e inalienável de se comunicar com seu Criador, diretamente, em qualquer lugar onde se
encontre, dando como exemplo o lugar onde se dorme: “Mas tu, quando orares, entra no
teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê
secretamente, te recompensará.” (Mt, 6: 6). Ao se meditar sobre esse ensinamento,
percebe-se o quanto sua mensagem foi deturpada pelos teólogos, que ensinam terem
certas pessoas determinadas prerrogativas de serem ouvidas por Deus, como se fossem
advogados a levarem agradecimentos ou a reivindicarem determinadas benesses, numa
prática desenvolvida em meio a rituais completamente estranhos aos ensinamentos e aos
exemplos de Jesus, com a agravante de serem remunerados.
Jesus libertou a criatura humana também da necessidade do comparecimento ao
templo, a fim de ali encontrar-se com Deus. O Mestre jamais convidou alguém a orar num
templo. Pelo contrário, quando a Samaritana manifestou-se no sentido de adorar a Deus
no Templo de Jerusalém, o Mestre desautorizou tal atitude, dizendo-lhe: "Mulher, crê-me
que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é
espírito e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade." (Jo, 4: 21 e
24). Para Jesus não havia santuários, lugares especiais. Seus ensinamentos, suas curas,
suas orações sempre foram levados a efeito onde quer que ele se encontrasse.
Vê-se, assim, que Jesus trouxe à Terra uma mensagem religiosa sem precedentes.
Simples, sem ser superficial; profunda, sem ser complicada. Mas, uma concepção religiosa
libertadora não agrada àqueles que desejam exercer o poder religioso. Estes procuram
conservar a religião como algo mágico, místico, extático, complexo a ponto de a ela só
terem acesso os doutos e os sábios, pessoas pretensamente especiais, que estariam mais
habilitadas a intermediarem as mensagens das criaturas ao Criador. Essa, a visão dos
teólogos que foram introduzindo interpretações pessoais e tendenciosas à Mensagem
Cristã, esquecidos de que ele fora crucificado exatamente pela coragem de contrapor-se
ao poderio sacerdotal, àquela verdadeira ditadura religiosa.
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Essas verdades religiosas simples, que estiveram ao alcance de humildes
pescadores, de viúvas e de deserdados, foram, com o passar do tempo, relegadas a
segundo plano, tendo sido postos em primeiro lugar o ritual, a solenidade, o manuseio de
objetos de culto, a vela, o vinho, a fumaça, os cantochãos, as roupas especiais e todo um
conjunto imenso de práticas exteriores alienantes, poucas buscadas no judaísmo e muitas
no paganismo romano, que distanciavam o homem cada vez mais do esforço de autoaprimoramento
preconizado por Jesus.
Assim, vagarosamente, o eixo da mensagem cristã foi-se desviando, saindo da área
do estudo, da meditação e do serviço à luz da oração consciente, passando às práticas
exteriores. Os pronunciamentos libertadores de Jesus não foram objeto de estudo pelos
teólogos, que criaram as liturgias, os sacramentos, e, pior ainda, a hedionda teoria das
penas eternas, desfazendo a consoladora imagem do Deus Misericordioso, tão bem
delineada pelo Mestre.
A mensagem cristã foi apequenada, podada, enxertada por aqueles que dela se
apossaram, ao construírem uma religião atemorizadora e salvacionista, com base em
atitudes místicas e na crença de que seria o sangue de Jesus o remissor dos pecados da
Humanidade. Foi enfatizada a adoração extática a Jesus-morto, em detrimento do esforço
em seguir Jesus-vivo.
O Mestre veio trazer a certeza de que Deus é Pai, é Amor, é Misericórdia,
contrapondo-O à figura apresentada no Velho Testamento, que mostrava o Criador como
alguém iracundo, vingativo, capaz de ter preferências por determinados povos e
abominação por outros. Infelizmente, o Pai Misericordioso, tantas vezes demonstrado por
Jesus, foi negado pelos teólogos, ao criarem o Inferno de penas eternas. Em verdade,
Jesus falou de sofrimento após a morte, mas nunca com a possibilidade de ser eterno.
Pelo contrário, disse: “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto
não pagares o último ceitil.” (Mt, 5: 26)
Mas, o Mestre, conhecedor da fragilidade humana, sabia que, de alguma forma, isso
iria acontecer, por isso, prometeu o Consolador: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo,
que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito.” (Jo, 14: 26)
Cumprindo sua promessa, enviou-nos o Espiritismo, que não é apenas mais uma
religião cristã, mas o próprio Cristianismo Primitivo, que ressurge na sua pureza, pujança e
objetividade originais, destacando-se das demais religiões, pelo menos das do Ocidente,
pelo seu aspecto altamente educativo.
Bibliografia: A Bíblia Sagrada
Trad. João Ferreira d’ Almeida
Ed. Sociedade Bíblica Britannica e Estrangeira – 1937
José Passini
Juiz de Fora
passinijose@yahoo.com.br
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